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RESIDÊNCIA LISBOA : DIA #5
Mouraria
Rua do Benformoso
14ºC
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O dia começou em sobressalto. Afinal, dentro de minutos, iria começar o Eid al-Fitr, a cerimónia que marca o fim do Ramadão. Esperávamos este momento com entusiasmo desde o início da semana, na expectativa de que seria uma ocasião marcante na nossa compreensão da Mouraria e do mundo.
A data específica desta comemoração não está previamente definida. Tal como o seu início, o final do Ramadão é ditado pelo primeiro avistamento da Lua Nova e a sua designação depende da cuidadosa observação do firmamento pelos líderes espirituais da comunidade islâmica. Ora, o céu estava, desde a tarde de ontem, coberto de nuvens e seria de esperar que a Lua só se mostrasse na madrugada de Sábado.
Certo é que hoje percebemos que, contrariamente ao expectável, iria mesmo acontecer. Saltámos das camas e, ainda com um olho fechado, corremos em direcção à Praça do Martim Moniz.
A multidão fazia parecer pequeno aquele enorme vazio. Homens de joelhos oravam em silêncio sob a batuta de alguém que, sentado numa cadeira cerimonial, orquestrava cada movimento. Ou, pelo menos, é isso que achamos que aconteceu. Na verdade, uns minutos após a nossa chegada, o silêncio deu origem a uma ruidosa explosão de abraços e alegria. É dia de festa! E nós tínhamos chegado atrasados…
Entre vários compromissos com a equipa multimédia do projecto, dedicámos a tarde a uma reflexão sobre a concepção da peça artística que, daqui a uns meses, será instalada no território da Mouraria.
Ao final do dia, encontrámo-nos com a Farhana Akter, uma das colaboradoras da Renovar a Mouraria. Chegou a Lisboa, vinda do Bangladesh, em 2020. Durante a pandemia, vivendo das suas poupanças, foi tomando contacto com a comunidade migrante na cidade e compreendendo melhor as suas preocupações.
Mulher forte e empreendedora, é um membro muito activo no bairro e, além de estar a frequentar uma Pós-Graduação em Desenvolvimento Comunitário no ISCTE, dinamiza uma série de iniciativas culturais e sociais.
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I have feelings for everyone
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A Cooperativa Bandim é um projecto de integração económica dirigido a mulheres. Além de trabalho, oferece-lhes também competências como a costura e o artesanato. Os produtos criados são depois vendidos numa loja física, no Mercado do Forno do Tijolo, e em feiras comunitárias.
Tendo um passado como professora de Inglês no Bangladesh, fala-nos da importância do ensino das Línguas. Confirma-nos que o desconhecimento do Português é o principal impedimento à integração de muita gente no mercado de trabalho. Uma das escolas com a qual colabora ensina português, sem encargos, a falantes de 37 línguas. Há outros cursos gratuitos, mas muitas vezes não têm vagas e são apenas dirigidos ao nível básico. Para continuar a aprender é necessário um investimento financeiro que, na maioria das vezes, se revela impeditivo.
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It is hard to deal with these stories.
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No Bangladesh, país onde faz questão de regressar com frequência, auferia mais do que o que recebe hoje em Lisboa. Mas teve de optar. Escolheu o outro lado do mundo, em busca de Liberdade e reconhecimento social.
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I had my family’s identity there. Here I can have my own.
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