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RESIDÊNCIA LISBOA : DIA #7

Posted 23.04.2023 by Renovar a mouraria

Mouraria

Rua do Benformoso

19 ºC

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Fim.

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Terminou esta residência. A pedra está no topo da montanha.

Sete dias de força, compromisso, incredulidade, estranheza e imersão na Mouraria.

Há uma semana, nenhum de nós imaginava que chegaríamos ao final com esta sensação de pertença. À infinitude de conquistas e reflexões, junta-se uma exaustão física e mental, fruto da singular intensidade deste projecto.

Hoje somos ainda três. Três corpos vivos que aprenderam a viver e a pensar em conjunto. Três sensibilidades que construíram uma consciência comum. Três gerações com distintas visões do mundo. Três corações que se quebraram confrontados com a vida mas que, ainda assim, batem em uníssono pelo bairro.

Mergulhámos de corpo e alma nesta colina de Lisboa sem saber que sete dias passariam desta forma. Se, por um lado, temos a distinta sensação da velocidade do tempo, por outro, esse mesmo tempo dilui-se numa fusão de sentimentos, rostos, luz e cor.

O sentimento é de missão cumprida. Conseguimos desmistificar um conjunto de ideias pré-concebidas e entendemos o orgulho em ser da Mouraria.

Após uma última conversa com a coordenação internacional do projecto, onde apresentámos as nossas conclusões, juntámos as mãos em jeito de orgulho: Estava feito! O vazio, que se instalou após tantos dias de pura adrenalina em contra-relógio, só foi disfarçado pelo almoço que partilhámos com a Filipa, no Largo do Forno.

Já conhecíamos este lugar. Não há muitos dias tomámos lá um reconfortante pequeno-almoço. No largo apertado, além deste estabelecimento, existe um outro, Nepalês, onde decidimos ir comer. Está calor. Sentamo-nos cá fora, na esplanada da pastelaria (hoje encerrada). As mesas servem agora o restaurante, que as cobriu de toalhas e pequenas jarras de flores, numa partilha que evidencia a feliz coexistência característica da Mouraria.

A alegria de estarmos, finalmente, juntos pelo simples prazer de ficarmos em comunhão, trouxe o conforto que já necessitávamos. Mal nos tínhamos sentado, apareceu a Dipa, com um sorriso rasgado que evidenciava o vivo batom encarnado, da mesma cor do bindi – um pequeno ponto na testa que evidencia o terceiro olho na filosofia Hindu. Apesar do convite, não se sentou connosco; já tinha almoçado. Passado uns instantes, vemo-la receber, de um simpático casal, um garrido ramo de flores. A senhora, já idosa e moradora naquele pequeno Largo, notando a nossa curiosidade, anunciou:

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É o aniversário da Dipa, faz hoje anos!

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Entusiasmados pela notícia que nos chegava, não tardámos a felicitar esta nossa nova amiga que, agradecendo o gesto, fez questão de nos enquadrar: Ontem foi o dia do seu aniversário, em Portugal; no dia de hoje, devido à diferença horária, cumpre mais um ano no Nepal, terra onde nasceu.

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Após uma última subida ao topo da colina, contemplamos o Tejo e o Castelo, emoldurados pelas altas janelas do Palácio dos Távoras. Aqui, no conforto do silêncio que percorre o edifício, lembramos a improbabilidade da razão que nos juntou e a imensidão das memórias que levamos connosco.

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O calor que o abraço do Cláudio nos deixou no corpo.

O som do fado.

A amizade que fica.

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Fim?

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